| Meu pai não tinha educação
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| Ainda me lembro, era um grande coração
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| Ganhava a vida com muito suor
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| Mas mesmo assim não podia ser pior
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| Pouco dinheiro pra poder pagar
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| Todas as contas e despesas do lar
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| Mas Deus quis vê-lo no chão
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| Com as mãos levantadas pro céu
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| Implorando perdão
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| Chorei, meu pai disse: «Boa sorte»
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| Com a mão no meu ombro
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| Em seu leito de morte
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| E disse: «Marvin, agora é só você
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| E não vai adiantar
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| Chorar vai me fazer sofrer»
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| Três dias depois de morrer
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| Meu pai, eu queria saber
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| Mas não botava nem um pé na escola
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| Mamãe lembrava disso a toda hora
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| Todo dia antes do sol sair
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| Eu trabalhava sem me distrair
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| As vezes acho que não vai dar pé
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| Eu queria fugir, mas onde eu estiver
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| Eu sei muito bem o que ele quis dizer
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| Meu pai, eu me lembro, não me deixa esquecer
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| Ele disse: «Marvin, a vida é pra valer
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| Eu fiz o meu melhor
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| E o seu destino eu sei de cor»
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| E então um dia uma forte chuva veio
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| E acabou com o trabalho de um ano inteiro
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| E aos treze anos de idade eu sentia
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| Todo o peso do mundo em minhas costas
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| Eu queria jogar mas perdi a aposta
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| Trabalhava feito um burro nos campos
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| Só via carne se roubasse um frango
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| Meu pai cuidava de toda a família
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| Sem perceber segui a mesma trilha
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| Toda noite minha mãe orava:
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| «Deus, era em nome da fome que eu roubava»
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| Dez anos passaram
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| Cresceram meus irmãos
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| E os anjos levaram minha mãe
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| Pelas mãos
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| Chorei, meu pai disse: «Boa sorte»
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| Com a mão no meu ombro
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| Em seu leito de morte
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| «Marvin, agora é só você
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| E não vai adiantar
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| Chorar vai me fazer sofrer
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| Marvin, a vida é pra valer
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| Eu fiz o meu melhor
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| E o seu destino eu sei de cor» |